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Fábrica de Rações Santana
A Nutrição ao Serviço da Lavoura
Jorge Rita, Presidente da Federação Agrícola dos Açores e Associação Agrícola de São Miguel, em jeito de balanço aborda as temáticas atuais da lavoura açoriana e faz um ponto da situação a nível do leite e carne do setor. Em destaque estão os novos desafios que o setor enfrenta, a sua preocupação com o merecido reconhecimento dos lacticínios dos Açores, o futuro da produção de leite na região, o papel da sustentabilidade ambiental e a inovação tecnológica no setor, a Assinatura do Acordo de Parceria entre a Federação Agrícola dos Açores e o Governo Regional. Nesta entrevista poderá ler a sua análise do ano de 2024 e o que espera para 2025, que arranca com otimismo.
- Pode começar por fazer um balanço de 2024 em termos das principais dificuldades e realizações para o setor agrícola nos Açores?
Jorge Rita - 2024, não foi um ano extraordinário, mas foi melhor que o ano anterior, melhorou-se um pouco o rendimento dos agricultores. Os problemas mais graves deste ano, surgiram devido à seca que se registou na região e os efeitos de algumas pragas e doenças tiveram consequências nalgumas culturas pelas baixas produtividades que originaram. Todavia, estes prejuízos foram atenuados com o auxílio do Governo Regional que atendeu as nossas reivindicações, através de apoios.
Um outro desafio, que não posso deixar de mencionar é o recente acordo referente ao Mercosul que apresenta desafios nomeadamente, para a carne regional, por isso, defendemos a existência de medidas protetoras para os Açores, por se tratar duma região ultraperiférica.
No entanto, o ano de 2024 também trouxe algumas conquistas, existiram algumas subidas no preço de leite pago ao produtor, na carne bem como, melhoria nos preços de venda de outras produções. Sublinho que existiram algumas descidas nalguns fatores de produção (rações e fertilizantes) que contribuíram para a melhoria dos rendimentos dos agricultores.
Também as medidas acordadas com o Presidente do Governo dos Açores têm sido fundamentais na sustentabilidade do setor agrícola, sejam nas medidas refletidas no acordo de parceria de estabilidade e rendimento, seja no aumento da autonomia alimentar da pecuária na região, como o apoio dado à sementeira do apoio ao milho e sorgo, pela implementação no novo programa de apoio financeiro aos juros, pela nova distribuição de direitos de vacas aleitantes ou ainda pela liberalização do gasóleo agrícola a partir de 2025.
- Alguns objetivos para 2024 ficaram por atingir? Quais foram os motivos que não permitiram a realização dos mesmos?
J.R. - No que se refere ao preço de leite, não subiu o que pretendíamos, é nossa expetativa que continue a subir, o ideal para nós era uma subida de 4 a 5 cêntimos, sei que é difícil, mas seria ótimo para a produção recuperar parte daquilo que perdeu durante alguns anos e é mais do justo que a melhoria generalizada dos mercados lácteos se reflita no preço pago á produção duma forma mais aprofundada.
No âmbito dos fundos comunitários, aguardamos que o Prorural+ seja devidamente executado e que o PEPAC-Açores entre em pleno funcionamento, para que os agricultores possam investir com segurança e critério. Igualmente, aguardamos que o PRR seja devidamente aplicado na região.
As infraestruturas agrícolas nomeadamente, os caminhos agrícolas, o abastecimento de água e luz às explorações são fundamentais na diminuição dos custos dos fatores de produção, pelo que, aguardamos que o aumento da dotação do plano do Governo dos Açores para 2025 nesta área, seja executado.
A falta de mão de obra na agricultura é um problema atual pelo que, têm de ser encontradas medidas capazes de contrariar a tendência existente de envelhecimento do setor e também da própria sociedade.
- Para este ano de 2025, quais são as principais prioridades da Federação Agrícola dos Açores?
J.R. - Queremos continuar a proporcionar aos agricultores um futuro cada vez mais promissor, por isso, entendemos que devem ser tomadas medidas que permitam cativar os jovens e aumentar a entrada de jovens no setor agrícola, nomeadamente, pela diminuição da carga fiscal e também, nas prestações da segurança social para quem pretenda estabelecer-se no setor.
As criações de medidas em parceria com o Governo dos Açores são imprescindíveis para criar condições que permitam ao setor agrícola ter capacidade de se diferenciar pela excelência da produção regional.
- Em 2025, que oportunidades prevê para o setor agrícola açoriano, tanto no mercado interno como no externo?
J.R. - Os mercados estão a melhorar. A nossa oportunidade é sempre o reflexo da qualidade dos nossos produtos, e o que falta por vezes, é sermos capazes de promover devidamente no exterior o que produzimos na região, desde o leite, à carne, ao setor hortofrutícola, à vinha, ao chá, à agricultura biológica e mesmo à nossa floresta. Sabemos produzir e temos de aproveitar quem nos visita para serem os verdadeiros promotores da qualidade dos produtos quando regressam aos seus locais de origem. Temos de procurar internacionalizar os nossos produtos e ser capazes de projetar a marca Açores a nível nacional, europeu e mundial. Temos de arranjar formas de criar uma segurança para garantir um futuro para a agricultura nos Açores, que passa pelo agroturismo, temos de saber aproveitar e dar uso ao melhor que temos, nomeadamente às nossas paisagens.
- Quais os papéis da sustentabilidade ambiental e da inovação tecnológica na agricultura dos Açores em 2025? Tendo em conta o aumento das tecnologias aplicadas à agricultura na região…
J.R. - Sem dúvida que são fundamentais no futuro da Agricultura dos Açores, mas temos muitas vantagens face a outras realidades, porque a agricultura que se faz na região é sustentável e está de acordo com as principais linhas orientadoras da Política Agrícola Comum. Os agricultores são os primeiros a cuidar do meio ambiente que os rodeia, porque dele retiram os seus rendimentos e são, assim, os principais cuidadores da paisagem que todos admiramos na região. Nos Açores, já assistimos à melhoria da genética e consequentemente dos ganhos de eficiência, tudo isto alinhado às novas tecnologias e ferramentas que chegam aos jovens da fileira do leite.
A inovação tecnológica tem um papel essencial não só na atração de jovens para o setor agrícola, mas também, na melhoria da produtividade das explorações, bem como, na preservação do ambiente que nos rodeia. A agricultura de precisão é cada vez mais uma vertente primordial na competitividade da atividade agrícola na região. A formação é paralelamente um fator crucial na sustentabilidade do setor.
- Para este ano, quais são as principais reivindicações que a Federação Agrícola dos Açores levará ao Governo Regional?
J.R. - Entendemos que as medidas acordadas com o Governo dos Açores devem ser cumpridas em tempo útil, embora saibamos que por vezes não é fácil corresponder duma forma rápida e expedita ao planeado. Pretendemos igualmente, que seja elaborado um calendário indicativo de pagamentos pelo Governo dos Açores para o setor agrícola.
Este seria mais um passo para a relação de confiança que existe com o Governo dos Açores na resolução dos problemas do setor agrícola, que se encontra dependente das condições climatéricas ou da volatilidade dos mercados.
Igualmente iremos continuar a defender os interesses dos agricultores dos Açores junto do Governo da República, já que quando da atribuição das ajudas ao setor agrícola nacional, decorrentes do pacto para a redução e estabilização de preços dos bens alimentares (que introduziu o IVA zero em muitos alimentos), existiu uma discriminação dos agricultores Açorianos, por não terem sido incluídos no pacote financeiro, o que resultou numa perda de mais de 20 milhões de euros. Aguardamos que seja encontrada uma solução para esta discriminação e contamos com o Governo dos Açores nesta nossa reivindicação.