Engenheiro Simões Dias em entrevista | Informações Técnicas


- A Associação Agrícola de S. Miguel promoveu pela segunda vez um curso sobre Emparelhamento Animal. Em traços gerais explique-nos em que é que consistiu o curso?

Simões Dias - A genética é das coisas mais importantes numa exploração. Podemos dar muito boa comida à vaca mas se ela não tiver genética não produzirá aquilo que se espera. É importante, por isso, esses cursos. Os emparelhamentos são extremamente importantes porque corrigem as deficiências que as vacas têm para que vivem mais tempo e assim o produtor terá menos refugo e uma vaca quanto mais anos viver mais lucro dará à exploração.

O curso sobre emparelhamento permite que o produtor esteja apto a ver numa vaca os três principais defeitos que uma vaca pode ter de uma geração para a outra. No emparelhamento deve-se escolher os três defeitos principais que prejudiquem a longevidade da vaca e depois escolher o touro adequado para corrigir esses defeitos na geração seguinte. O emparelhamento trata essencialmente isso: corrigir os defeitos que uma vaca possa ter no sentido de melhorar a sua genética.

Em termos práticos o curso abordou quatro módulos. No primeiro procedeu-se ao ensinamento da classificação morfológica da vaca leiteira. Aqui, os produtores aprenderam como identificar com mais rigor os defeitos e qualidades dos seus animais mediante inúmeros parâmetros de classificação. No segundo e terceiro módulos, o estudo promoveu a análise de catálogos de sémen e práticas de classificação linear. O quarto módulo foi dedicado ao ensinamento da prática do "emparelhamento animal" propriamente dito. Com esta formação o produtor aprendeu como deve ser feita esta selecção contribuindo, assim, para o melhoramento genético na sua exploração.

- Esse é já o segundo curso que o senhor engenheiro participa como instrutor. Qual o balanço que faz em termos de participação por parte dos produtores inscritos no curso?

S.D. - Acho que são sempre muito positivas essas iniciativas e nesse aspecto não posso deixar de louvar o esforço da Associação Agrícola de S. Miguel em possibilitar esses cursos aos seus associados. Em relação aos participantes, devo dizer que os lavradores cá da ilha são uns  aficionados dessas coisas. Nota-se o interesse dos produtores e a preocupação com essas questões.

E de facto para se trabalhar com genética, que é uma ciência contínua e de persistência, o interesse das pessoas é de extrema importância.

Um lavrador que tem vacas só para produzir leite e que não se preocupe com a genética dos seus animais não atingirá os rendimentos e os objectivos tendo em conta os novos desafios. O balanço é, na minha perspectiva, muito positivo e é de salientar o esforço desses produtores.

-Houve muito interesse então…

S.D. - Sim foram pessoas muito interessantes e interessadas e demonstraram isso ao longo do curso através das questões colocadas e da disponibilidade para estarem connosco aquelas horas pois não é fácil para um lavrador juntar ao longo dia de trabalho mais umas horas de formação. Por isso logo aí o interesse é bastante visível.

- Daquilo que tem verificado nas explorações micaelenses, elas apresentem as condições necessárias para a prática do emparelhamento?

S.D. - Sim. Qualquer exploração pode fazer emparelhamento. Mas nota-se que em certas zonas e explorações as condições estão acima da média. Penso que é uma questão de persistência e de gosto. Um produtor que participe nesses cursos de certo que vai olhar para o animal de uma forma mais cuidada e critica e se calhar daqui por uma geração ou duas, os animais já serão diferentes. Por isso qualquer exploração tem condições para a prática do emparelhamento basta que o produtor esteja sensibilizado para essas novas práticas.

Além disso não esqueçamos que a formação deve ser contínua pois a genética como ciência é uma prática também contínua. Há uns anos atrás era inconcebível pensar que uma vaca pudesse produzir 50 ou 60 litros. Hoje isso já é perfeitamente normal. Por isso as condições na ilha são bastante razoáveis e quando não são modifica-se no sentido de promover essas práticas.

- Tem notado alguma melhoria a nível de genética nas explorações que visitou tanto no primeiro curso como no segundo?

S.D. - Sem dúvida que sim. Não só nesta ilha mas também nas restantes. Eu já visito os Açores nessas formações já vão para 15 anos e noto uma grande diferença no meio agrícola. Acho que na ilha de S. Miguel houve um crescimento brutal a nível genético e isso é de salientar.

- Como nota final o que lhe apraz dizer aos nossos produtores?

S.D. -  O que sempre digo é para serem persistentes. Sei que a fase não é das melhores devido ao preço do leite pago pela indústria aos produtores não compensar de forma alguma o trabalho e despesas do produtor. Mas é nesses momentos que vemos de que fibra somos feitos. Se nós abalarmos na altura da adversidade podemos ter consequências muito más no futuro. Ou seja, não desistem pois se desistirem agora todo o trabalho realizado até aqui terá sido em vão. Portanto a persistência é o conselho que eu dou.