Silagem de erva | Informações Técnicas


Aspetos gerais

A erva a ensilar pode ser azevém ou uma consociação com outras gramíneas e/ou leguminosas. É possível fazer silagem de leguminosas (por exemplo, luzerna). Sabemos contudo que neste caso a dificuldade de ensilagem é maior do que nas gramíneas, pois a capacidade de neutralizar os ácidos produzidos, por acção dos minerais e proteínas é maior nas leguminosas. Além disso, contêm menos açúcares para fermentar. Nos Açores, a forragem mais comumente utilizada é a de azevém e é nela que vamos centrar a nossa atenção.

Para obtermos produções elevadas de forragens precisamos de reunir condições adequadas. Devemos realizar análises ao solo, um serviço técnico que a Cooperativa União Agrícola tem ao dispor dos associados, para efectuarmos uma adubação adequada, conseguindo assim uma produção mais elevada a mais baixos custos. O controlo das infestantes também é importante.

Depois do corte da erva, as células não morrem imediatamente, continuando a respirar, o que provoca um declínio (perda) das reservas de açúcares (energia) devido ao aumento de temperatura e de libertação de dióxido de carbono provocado pelo início da fermentação. Estudos revelam que estas perdas são reduzidas quando se consegue reduzir os teores de humidade e baixando o pH. A atividade respiratória cessa quando a humidade desce para além dos 40% e o pH atinge valores de 3,5, daqui se depreende que para se conseguir uma boa silagem temos que deter o mais rapidamente possível estes processos naturais de degradação. Para tal dispomos de três meios:

- Secar a forragem rapidamente, fazendo feno.

- Provocar a sua acidificação através de meios naturais ou artificiais.

- Recorrer as duas situações anteriores em simultâneo.

 

É a técnica de SILAGEM.

Para compreender e utilizá-la bem é necessário compreender que depois do corte da erva, neste caso Azevém, esta entra em processo de fermentação, podendo ocorrer uma de quatro situações:

1º. Dar-se uma fermentação anaeróbia (sem presença de oxigénio), promovendo as fermentações lácticas, que acontecem quando conseguimos forragens com pouca humidade e a temperaturas da ordem dos 30° a 37°. Esta fermentação promove o abaixamento do pH na ordem dos 3,5, causando poucas perdas de nutrientes e confere um odor e sabor agradáveis para os animais.

2º. Devido à humidade excessiva, dá-se uma fermentação acética que conduz a uma perca das reservas de glucidos, produzindo uma silagem de baixo valor alimentar para o gado.

3º. Numa forragem rica em proteínas e pobre em açúcares (energia) desenvolve-se uma fermentação butirica extremamente prejudicial, conferindo cheiro e sabor desagradáveis, obtendo-se assim uma silagem de baixo valor nutritivo.

4º. Ocorrer uma fermentação com excesso de humidade, e presença de Oxigénio o que provoca o total apodrecimento da forragem.

Posto isto depreende-se que apenas e só a primeira situação nos interessa. Para se conseguirem aqueles resultados devemos ter em conta que o momento do corte é muito importante e que devemos respeitar algumas regras.

 

Cuidados a ter ao realizar silagem de erva em rolos

Corte - O momento do corte é talvez o aspecto mais importante para a qualidade da silagem de erva. Temos que encontrar uma relação de compromisso entre a qualidade e a quantidade. Quanto mais tardio for o corte mais quantidade de forragem teremos, mas menos qualidade nutritiva. Assim, o corte deve ser efectuado antes do espigamento e as plantas devem ser deixadas no campo a secar, de forma que se consiga um teor minimo de matéria seca  30 %. A secagem está dependente das condições climatéricas, mas é sabido que quanto mais rápida for, melhor será a conservação e menos perdas existirão (o uso de "condicionadora" é de grande ajuda, pois acelera este processo). A forragem deve ser ensilada ou enrolada, consoante os casos, nunca mais de 48 horas após o corte, exceto em condições adversas.

Enfardamento - Recomenda-se que a erva seja enfardada com um teor de Matéria Seca (MS) de 30 a 50 %. Valores muito baixos de MS promovem o desenvolvimento de bactérias prejudiciais e promovem a lixiviação de efluentes tóxicos, da mesma forma, um teor de MS superior a 55% faz aumentar o risco de aparecimento de bolores e causará uma perda substancial de açúcares reduzindo a qualidade da silagem devido a maior dificuldade de compactação.

Ao fazer os rolos há que ter o cuidado de que estes fiquem bem comprimidos, de forma a reduzir ao mínimo o ar residual para evitar fermentações indesejadas. É recomendável o uso de aditivos líquidos (conservante ou inoculante), durante o enfardamento, que, ao aportarem níveis mais elevados de açúcares fermentáveis, promovam uma mais rápida fermentação láctica melhorando a conservação da MS, ou acidificando o meio garantindo assim que se controla diretamente o crescimento de leveduras e fungos.

Plastificação - Os rolos de erva devem ser plastificados no máximo duas horas após terem sido feitos, de maneira a reduzir ao máximo o risco de deformação e evitar ter que usar mais plástico que o necessário. É também passado estas duas horas que se iniciam os primeiros processos de fermentação, estaremos portanto a reduzir a qualidade da silagem deixando passar mais que este tempo.

Deve sempre verificar se o estiramento inicial do plástico se encontra entre os 50 a 70%. Para verificar isto, a melhor forma é medir a largura do plástico, numa das bases do rolo já plastificado. Caso esteja a utilizar filme de 750mm de largura, este depois de estirado deve medir entre 58 e 62 cm.

Se detetar um estiramento maior que estes valores, aconselha-se a que não continue a plastificar até descobrir a ou as causas desse excessivo estiramento, pois um filme sobrestirado perde as suas propriedades de conservação e romper-se-á com facilidade.

Assim devemos sempre respeitar alguns princípios importantes quando se plastificam os rolos:

1- Plastificar no máximo 2 horas após enfardar.

2- Não de plastificar durante as horas de maior calor nem quando esta a chover.

3- A face do plástico que contém cola deve estar em contacto com a erva.

4- Se a sua máquina de plastificar usar duas bobines de filme, use bobines da mesma cor. (apesar de terem o mesmo tratamento UV cores diferentes têm temperaturas diferentes e têm comportamentos distintos com a variação da temperatura).

5- Não deixe um rolo de filme estirável meio utilizado para o dia seguinte na máquina. Deve retira-lo e guardar na embalagem original.

6- Dependendo das condições e teor de MS da erva a plastificar, devemos utilizar no mínimo 16 voltas de plástico (4 capas) para silagem em condições "normais" e 24 (6capas) voltas para ervas mais húmidas.

7- Deve ao plastificar, verificar que existe um mínimo de 50% de sobreposição de plástico.

8- Deve sempre verificar se o estiramento inicial do plástico se encontra entre os 50 a 70%. Para verificar isto, a melhor forma é medir a largura do plástico, numa das bases do rolo já plastificado. Caso esteja a utilizar filme de 750mm de largura, este depois de estirado deve medir entre 58 e 62 cm.

 

Cuidados após plastificação, Armazenamento

1- Os rolos plastificados devem ser arrumados o mais próximo possível do local onde foram feitos.

2- Deve arrumar os rolos o mais rápido que puder não devendo ultrapassar as duas horas após terem sido plastificados.

3- O manuseamento dos rolos deve ser feito com equipamento adequado (pinça) e por operador cuidadoso.

4- Os rolos devem ser arrumados com a parte plana para cima e não se deve empilhar mais de três rolos em caso de ervas mais secas e nunca mais de dois rolos em caso de ervas mais húmidas.

5- Deve ter o cuidado de não colocar os rolos perto de árvores, em zonas com água e protegido dos animais.

6- Deve evitar a todo o custo o contacto dos rolos com produtos fitofarmacêutico, uma vez que estes degradam seriamente as características de UV.

7- Deve ter o cuidado de verificar, de vez em quando se existem rasgos nos rolos armazenados e providenciar a sua reparação.

 

Cuidados a ter ao realizar silagem de erva em silos

Práticas adequadas durante o enchimento do silo:

O corte das plantas tem como objetivo facilitar a compactação, o rompimento das células permitindo a rápida atuação das bactérias fermentativas e o consumo da silagem pelo animal. Para o tamanho ideal das partículas, que em situações normais (30 a 35 % de MS) seriam cerca de 1 a 2 cm para o milho e até 4 a 5 cm para a erva (azevém). O enchimento do silo deverá ser feito dentro do menor espaço de tempo possível, e nunca interrompido por mais de 24 a 48 horas consecutivas. Antes de reiniciar qualquer enchimento interrompido dever-se-á compactar o silo para que haja expulsão do ar.

Expulsão do ar durante o enchimento do silo - compactação

A massa forrageira picada deverá ser espalhada uniformemente por todo o silo em camadas de 0.5 metros e compactada cuidadosamente, de forma contínua, camada a camada. A última camada deverá ficar um pouco acima dos bordos superiores das paredes laterais do silo para evitar o surgimento de bolsas de ar por dificuldade de ajustamento do plástico à matéria da forragem ensilada.

 Isolamento da massa ensilada à entrada de ar e água.

O isolamento do silo é importante porque visa impedir a entrada de ar e água, e para tal existem regras importantes a seguir:

1- O armazenamento nos silos deve executar-se sem demora para reduzir ao máximo a exposição ao oxigénio.

2- O armazenamento deve efetuar-se por camadas finas, utilizando um sistema de compactação apropriado de forma a retirar o oxigénio.

3- Recolha ou canalize os efluentes para evitar problemas ambientais.

4- Utilize um sistema de extração limpa e frontal para fornecer a silagem ao gado

5- Cobrir com plástico mecanicamente resistente com uma proteção UV elevada.

6- Ajustar o plástico utilizando cintas apropriadas ou telas evitando ao máximo o uso de terra a cobrir os silos.

7- Não deve utilizar terra em excesso para cobrir os silos. O uso de grandes quantidades de terra provoca uma sobrecarga no filme plástico podendo levar à sua rutura e por consequência perdas de silagem em qualidade e quantidade.

8- Deve controlar e evitar danos causados por roedores. Deve colocar em volta do silo dispositivos de captura e controle dos mesmos.

Permeabilidade das mangas

à passagem de oxigénio

Um filme plástico de polietileno com espessura de 180 µm tem permeabilidade ao oxigénio de 990 cm3/m2 em 24 horas, à temperatura de 23°C. Com o aquecimento do material para 50°C a permeabilidade ao oxigénio aumenta para 3000 cm3/m2 em 24 horas (BORREANI; TABACCO, 2008). Devido à maior dificuldade de compactação, a parte superior do silo apresenta menor densidade, maior porosidade e, consequentemente, maior intensidade de trocas gasosas, facilitando, assim, a entrada de oxigénio e, consequentemente, o processo de deterioração aeróbia, decorrente do desenvolvimento de microrganismos aeróbios.

Esse processo de deterioração intensifica-se pela grande superfície de contato do material ensilado com o ambiente, pela deficiência nas práticas de ensilagem, como referido anteriormente e, pela ineficiência dos filmes plásticos em evitar a entrada de oxigénio. A deterioração nestas regiões pode-se apresentar de forma visível pelo aparecimento de colónias de fungos filamentosos (bolores) e/ou camadas de silagem com coloração escura.

Também nos silos de trincheira com paredes de cimento se verifica que existem trocas gasosas com o exterior do silo e consequentemente provoca perdas na silagem armazenada. Devemos portanto, isolar tanto quanto possível as mesmas, recorrendo a pinturas estanque (muito mais caras por m2 e com reduzida durabilidade) ou forrando as laterais com filme plástico (solução mais económica) por forma a reduzir ao máximo a permeabilidade das paredes do silo ao ar.

A manga plástica como vimos atrás, confere proteção mecânica mas não consegue ser completamente estanque à passagem de ar, daí ser aconselhado o uso de barreiras de oxigénio para diminuir as trocas gasosas entre o interior e o exterior do silo.

 

Optimização do plástico mediante a sua largura e capacidade dos silos em m3

Quando pensamos em recolher a silagem e proceder à elaboração do silo, a maioria das vezes não pensamos na melhor forma de rentabilizar o plástico adquirido mediante a quantidade de silagem que podemos proteger. Ou seja na elaboração do silo se tivermos em consideração as medidas do silo, podemos com a mesma área de plástico proteger/armazenar mais ou menos m? de silagem.

 

EXEMPLOS

Ao observar a tabela 1, podemos constatar que, alterando a largura, o comprimento e altura do silo, com a mesma área de plástico podemos proteger desde 220 m3 de silagem até 276m3 . Se atendermos que o custo da manga é sempre o mesmo por área, depreendemos que o custo por m3  armazenado é substancialmente inferior no caso de um silo com 46x4x1.5 metros que um silo com 44x2x2.5 metros.

Podemos verificar a mesma relação com outras medidas de manga plástica que passamos a apresentar, destacando para cada uma das medidas o tamanho de silo mais económico por quantidade armazenada.

Podemos portanto depois do apresentado concluir que de todas as mangas analisadas, aquela que menos custos apresenta por m3 de armazenagem é a manga com dimensão ótima de 43x7x3m, com um custo de 0.25euros/m2 (tabela 4).

 

Engº Filipe Spranger