Potencial da raça Aberdeen-Angus | Informações Técnicas


A raça tem origem na seleção de gado nativo mocho que apascentava no Nordeste da Escócia, nas áreas do condado de Aberdeen e Angus e que originou o seu nome.

A maior pressão de seleção aconteceu na segunda metade do Séc. XIX e a sua disseminação e o sucesso, que hoje perdura, ficaram-se a dever principalmente a três criadores (i.e. Hugh Watson, William McCombie e George Macpherson-Grant), devido ao seu talento, dedicação, disciplina e perseverança, deixaram um inestimável legado que torna a raça mais numerosa nos principais países produtores de carne no mundo (e.g. EUA, Argentina ou Australia).

A primeira publicação do Livro Genealógico aconteceu há 150 anos, na altura designado por "Polled Herd Book" por registar o pedigree das raças mochas Aberdeen-Angus e Galloway. Em 1879 foi fundada a primeira associação de criadores da raça, designada por "Polled Cattle Society", hoje conhecida por "Aberdeen-Angus Cattle Society" com a sua sede em Perth - Escócia.

A raça expande-se rapidamente no Novo Mundo (América do Norte, Austrália, Nova Zelândia e América do Sul) onde as vastas áreas de pastagem foram ideais para o seu desenvolvimento. Em 1901 já se efetuavam mais registos de animais puros nos Estados Unidos da América do que no Reino Unido.

É uma raça precoce de cor preta e variedade vermelha, gene mocho dominante (i.e. mesmo no cruzamento com outras raças aspadas), cujo temperamento, rusticidade, capacidade maternal e a adaptação aos regimes extensivos permite otimizar a produção de carne de qualidade de uma forma sustentável e faz com que hoje se encontre em franco progresso em mais de 50 países, incluindo Portugal. A Aberdeen-Angus é reconhecida pela sua facilidade no parto e no peso baixo ao nascimento, tornando-a a opção em cruzamento industrial em raças leiteiras e de carne.

O gene mocho dominante e a docilidade no temperamento facilitam o maneio animal e a redução da mão-de-obra. A sua precocidade (i.e. início da deposição de gordura) permite o abate de animais jovens com pesos de carcaça de maior valorização comercial (i.e. 241 a 280kg) com adequado acabamento, sem contudo intensificar o uso de suplemento, permitindo ao produtor lotes homogéneos e ao mercado a padronizarão da qualidade da carcaça e da carne.

Todavia, a qualidade da carne é a característica que a distingue, valendo-lhe o rótulo da "melhor carne do mundo" o que a torna-a numa "marca" reconhecida em todo. Muitos consumidores não conhecem a raça mas quando se fala de "Angus" instantaneamente há uma relação com "qualidade".

A carne Angus tem esta reputação pela qualidade consistente que apresenta, devido à sua precocidade, o que significa elevada deposição de gordura subcutânea e intramuscular. Deste modo, a infiltração de gordura na carne (i.e. marmoreado) resulta numa maior satisfação no seu consumo, pelo sabor que encerra e pela sucosidade que incita, aliada à sua natural tenrura por se prestar a um arrefecimento da carcaça e maturação adequados. Essa qualidade continua a potenciar regimes de certificação como resposta às exigências dos consumidores, impulsionando os mercados e o uso da genética como é o caso de sucesso do Certified Angus Beef nos Estados Unidos.

Existem registos da entrada de animais puros em Portugal no final do século XIV, mas nunca foram utilizados para a criação em linha pura. Apenas em 1998 se inicia no Continente e em 2005 nos Açores a partir de animais importados da Alemanha e Luxemburgo.

O Livro Genealógico Português da Raça Bovina Aberdeen-Angus foi aprovado pela Direção Geral de Veterinária a 27 de Novembro de 2007 e entregue a sua gestão à Federação Agrícola dos Açores, sendo esta responsável pelo registo e melhoramento genético, assim como a proteção do código Aberdeen-Angus e cruzado Aberdeen-Angus no Sistema Nacional de Identificação e Registo Animal.

Foi fundada em 2009 a Aberdeen-Angus Portugal - associação de criadores, sendo uma organização representativa da criação a nível Nacional, passando por esta a proposta de novos núcleos de criação e registos de animais nascidos ou importados no Livro Genealógico, uma vez que é filiada na Federação Agrícola dos Açores.

O Livro Genealógico conta actualmente 700 vacas registadas, verificando-se no entanto uma contínua importação de reprodutores, da Irlanda, Reino Unido e Dinamarca, para colmatar a crescente procura.

Tendo em conta o enorme potencial do uso no sector leiteiro, tem-se registado um incremento sustentado do uso inseminação artificial na raça na Holstein-Frísia devido à facilidade no parto, o que fornece ao mercado animais F1 para recria e acabamento, principalmente nas ilhas de São Miguel e Terceira.

Existindo o potencial da raça na comercialização de carne de uma forma diferenciada com origem na genética Angus, pois a Aberdeen-Angus Portugal - associação de criadores criou uma rotulagem facultativa para a carne bovina aprovada pelo Ministério da Agricultura, permitindo assim acrescer valor ao produto.

A cadeia Pingo Doce já trabalha este produto nas suas lojas através do fornecimento de animais, principalmente cruzados, dos produtores do Continente e dos Açores.

A Cooperativa União Agrícola da Associação Agrícola de S. Miguel fornece de uma forma regular carcaças de bovinos cruzados, optimizando e integrando o uso da genética, uma vez que disponibiliza sémen aos seus associados comprando depois os cruzados para recria e acabamento com um preço diferenciado. É um exemplo do potencial da raça nos Açores, que beneficia explorações de leite e de carne com oferta de produto para um segmento de mercado de valor acrescentado.

 

Paulo Costa

Sec. Técnico do Livro Português

da Raça Bovina Aberdeen-Angus