Parasitismo: Um inimigo escondido na exploração | Informações Técnicas


Existem um elevado número de parasitas, podendo estes diferenciarem-se em endoparasitas (parasitas internos) e ectoparasitas (parasitas externos), assumindo cada qual maior ou menor importância consoante as condições climatéricas da região em causa.

Os endoparasitas mais importantes nos bovinos são os parasitas gastrointestinais pertencentes à classe dos nemátodes( Haemonchus, Ostertagia, Trichostrongylus, Bunostumom, Cooperia, Oesophegostomum) e dos tremátodes (Fasciola hepática).

A fasciolose pelas suas características peculiares será abordada de uma forma individualizada.

De uma forma geral, os animais contaminam-se através da ingestão de larvas parasitárias, existentes nos pastos contaminados e estas prosseguem o seu desenvolvimento no interior do organismo hospedeiro. O excesso de lotação nas pastagens, a co-habitaçao de animais jovens e adultos, a humidade e temperaturas elevadas, contribuem acentuadamente para intensificar as infestações.

Nos Açores, por tratar-se de uma região com clima temperado, com boas condições de calor e humidade, a contaminação das pastagens ocorre durante todo o ano.

A acção nociva dos parasitas no organismo processa-se de diversas formas:

Espolitiva (extraiem substâncias indispensáveis ao adequado funcionamento do organismo), Irritativa (provocando reacções inflamatórias no intestino que comprometem a utilização dos nutrientes), Traumática (provocando compressões nas vilosidades intestinais ou mesmo obstruções) e Tóxica (através da produção de toxinas).

Numa exploração leiteira, as fêmeas representam, sem dúvida, o factor mais importante para a rentabilidade da exploração. Os níveis de produtividade destas devem ser avaliados para que se consiga índices óptimos de produção para uma actividade lucrativa. A máxima rentabilidade consegue-se quando a idade ao primeiro parto anda à volta dos 24 meses, o número de dias em aberto pós-parto (intervalo parto-inseminação fecundante) ande à volta dos 90 dias, o intervalo entre partos próximo dos 12 meses e que as lactações sejam o mais uniforme possível ao longo do ano produtivo.

Numa exploração com um elevado nível de infestação, o que se verifica é que todos estes índices estão alterados negativamente, ou seja, há atrasos no crescimento e no ganho de peso, menor produção de leite em quantidade e qualidade, alargamento do período aberto pós parto, menor fertilidade e menor resistência às doenças, tudo isto porque o apetite do animal é reduzido e ocorre simultaneamente distúrbios na conversão alimentar.

No que diz respeito à fasciolose (infestação por Fasciola hepática), pode definir-se como uma doença do fígado dos bovinos com grande importância económica. As perdas económicas em geral são idênticas à dos restantes parasitas gastrointestinais, embora o número de mortes possa ser significativo. As perdas mais evidentes verificam-se pela rejeição nos matadouros dos fígados e de muitas carcaças devido à anemia que a doença provoca. Clinicamente a fasciolose apresenta-se de duas formas: a aguda e a crónica. Na aguda os animais exibem edemas sub-mandibular (papada) ocorrendo sempre a morte do animal devido às lesões provocadas no fígado pelas migrações das larvas parasitárias. Na crónica, os animais aparecem anémicos, com perda de peso, diarreia, diminuição do apetite, edema sub-mandibular, entre outros.

 Devido à forma peculiar em que ocorre a infestação, a doença só existe em locais muito húmidos, alagadiços e com pequenos charcos. Estas condições são necessárias para a viabilidade do hospedeiro intermediário (agente que é necessário para que o desenvolvimento do parasita ocorra até chegar ao hospedeiro definitivo, que neste caso são os bovinos) um caracol de água doce (caramujo). As vacas infestadas libertam os ovos com as fezes junto à água. Estes desenvolvem-se até à forma larvar, penetrando depois no caracol onde se desenvolvem ate à fase de cercaria. Estas são libertadas na água dos poços e transformam-se em metacercarias que se juntam à vegetação (erva) que posteriormente são ingeridas pelos bovinos, continuando o ciclo.

Nos Açores e particularmente em São Miguel, a fasciolose é limitada às zonas de maior humidade e mais susceptíveis de formar lagoas e pequenos poços durante todo o ano.

Recentemente a AASM, em colaboração com a Merial, realizou um estudo para detecção da presença de anticorpos de parasitas (Ostertagia e Fasciola) no leite. Foram utilizadas 49 amostras de leite de produtores que fazem contraste, distribuídos por toda a ilha. Enquanto que os resultados da Ostertagia foram positivos em todas as amostras, no que diz respeito à fasciola apenas foram positivas para as amostras pertencentes a produtores que se situavam nas zonas de maior humidade (Ponta Garça, Vila Franca, Lomba da Maia nas zonas médias-altas; Achada das Furnas e Povoação).

Conhecidas as consequências do parasitismo, coloca-se a seguinte questão: como controlar as infecções por parasitas gastrointestinais? Uma alimentação equilibrada quantitativa e qualitativamente é fundamental para aumentar a resistência dos animais às parasitoses. As vitaminas (ß-carotenos) e sais minerais (zinco, fósforo, cobre, mobdilenio e selénio) são muito importantes.

A desparasitação é fundamental para reduzir os prejuízos provocados pelo parasitismo. A altura da sua realização deve obedecer a critérios económicos e estes são diferentes consoante se trate de animais jovens ou em produção. Nos animais jovens, esta deve realizar-se normalmente a partir dos três meses de idade, duas vezes por ano, de preferência na Primavera e Outono. Nos animais adultos em produção, deve ser escolhido o momento que menos inconvenientes trás à economia da exploração, dado que alguns desparasitantes tem intervalos de segurança para o leite relativamente longos.

O momento ideal para a sua realização deve ser na altura do parto por várias razões. Nesta altura a imunidade (resistência) das vacas às parasitoses e outras doenças em geral está diminuída e vai-se agravar cada vez mais à medida que estas vão perdendo a condição corporal, porque o apetite está normalmente reduzido e como esta é a altura em que as necessidades nutricionais são maiores para fazer face à demanda de energia para a produção de leite, a redução do apetite e a espoliação dos nutrientes por parte dos parasitas vai agravar ainda mais esta condição. Por estas razões é fundamental reduzir os efeitos nocivos dos parasitas nesta altura. Esta opção apenas pode ser recomendada para aquelas explorações onde não existe a fasciolose hepática.

Nas explorações situadas nas áreas criticas para a fasciolose hepática, a altura recomendada para a desparasitação será na secagem. Isto porque os desparasitantes fasciolicidas apresentam um intervalo de segurança para a utilização do leite relativamente longo.

Para além dos endoparasitas, existem os ectoparasitas (parasitas que vivem no exterior do corpo dos animais). Destes, os mais importantes são os piolhos, as carraças as moscas e os ácaros (responsáveis pelas sarnas). Dentro de cada grupo, existem inúmeras espécies mais ou menos resistentes aos desparasitantes. A altura ideal para a desparasitação é variável ao longo do ano. Contudo existem soluções desparasitantes que exercem uma acção bastante eficaz tanto nos ectoparasitas como nos endoparasitas gastrointestinais mais importantes, incluindo a fasciola.

Os produtos mais adequados para cada exploração devem ser indicados pelo médico veterinário. Nestas circunstâncias, os agricultores não hesitem em aconselhar-se com o seu médico veterinário qual a melhor estratégia a seguir, bem como o desparasitante a utilizar.

Qualquer exploração bovina convive diariamente com os parasitas. Não sendo possível a sua erradicação, está perfeitamente ao alcance de todos os produtores fazer o seu controlo, a fim de minimizar os prejuízos.

Senhor agricultor, desparasite os seus animais. Eles agradecem.

 

DR. JOÃO VIDAL

MÉDICO VETERINÁRIO