Fábrica de Rações Santana
A Nutrição ao Serviço da Lavoura
A raça Aberdeen-Angus é uma das mais antigas do mundo, existindo registos históricos do ano de 1500. Foi desenvolvida no inicio do século XIX a partir de uma população de gado mocho de cor preta no Nordeste da Escócia, que demonstrava boas características para a produção de carne de qualidade.
O nome "Aberdeen-Angus" resulta da selecção genética do criador William McCombie de Aberdeenshire e de Hugh Watson do condado de Angus.
Devido ao seu potencial para a produção de carne foi criado em 1862 o Livro Genealógico para o gado mocho designado "Polled Cattle Herdbook" e em 1867 considerada como raça "Aberdeen-Angus", registando animais de pelagem preta e variedade vermelha, há cerca de 150 anos (foto 1 - representação do toiro "Old Jock", o primeiro a ser registado). Em 1879 foi fundada a Associação de Criadores que é hoje a Aberdeen-Angus Cattle Society, que tem a sua sede na cidade de Perth - Escócia.
A grande evolução do efectivo da raça aconteceu aquando da sua introdução nos Estados Unidos da América no final do Séc. XIX. Assim, em 1901, já existiam mais registos do que no país de origem.
A raça é a base genética para a produção de carne nos principais países, devido à sua rusticidade, à precocidade, à adaptação às mais diversas condições edafo-climáticas e à excelente qualidade da carne. Assim, chegou à Austrália em 1820; à Nova Zelândia em 1863; à África do Sul em 1895; à Argentina em 1879 e ao Brasil em 1906. Deste modo, tornou-se a raça de carne com maior efectivo registado a nível mundial.
Principais características
É uma raça bovina de médio porte com aptidão para carne. Classifica-se como precoce, ou seja atinge a maturidade sexual a idades mais jovens e pesos mais leves.
É um animal naturalmente "mocho" (i.e. sem cornos) e o gene é dominante na descendência (em linha pura ou cruzamento). Pelagem de cor preta, aparecendo a variedade vermelha como gene recessivo (foto 2).
A raça Aberdeen-Angus é conhecida pela sua eficiente conversão de pasto em carne, o que a torna muito interessante em termos de produtividade animal/ha, sendo normalmente utilizada no Modo Biológico. Na Nova Zelândia a selecção genética é direccionada para que seja possível produzir carne de elevada qualidade 100% à base de erva. A raça possui bom temperamento sendo de fácil maneio em condições de campo.
Apresenta como característica racial uma elevada facilidade de parto, sendo por isso extensamente utilizada em diversos programas de cruzamento com outras raças de carne (i.e. europeias ou zebuínas) e em cruzamento industrial em novilhas de raças leiteiras.
Fêmeas
A Aberdeen-Angus é muitas vezes referida como a "raça da vaca mãe" pelas excelentes qualidades como vaca aleitante.
Desde logo a sua facilidade de parto permite eliminar os custos com a perda de vitelos, mão-de-obra; dos cuidados veterinários e principalmente estar descansado quando se aproxima a época de parição. Atingem a maturidade sexual por volta dos 15 meses; o tempo de gestação é normalmente mais curto, em média menos 1 semana em comparação com outras raças, assim como o anestro pós-parto (o tempo que medeia a parição e o novo cio) (foto 3).
A produção de leite é boa pois os vitelos, mesmo leves à nascença (+/- 35kg) são vigorosos e com vontade de viver, crescem rápido e atingem um bom peso ao desmame com elevada taxa de sobrevivência, cumprindo-se o objectivo de produzir 1 vitelo/ano.
Machos
O elevado número de registos de animais em linha pura (ex: EUA ou Canadá), permite a existência de várias linhas que servem os vários sistemas de produção (extensivos ou intensivos) e diferentes mercados (foto 4).
Os reprodutores da raça Aberdeen-Angus são conhecidos pelo seu temperamento dócil, e elevada facilidade de parto que torna a raça escolhida para o cruzamento com novilhas de leite ou em cruzamento industrial com outras raças de carne.
Os machos transmitem o carácter mocho à descendência o que diminui a mão-de-obra na descorna e facilita o maneio animal.
As características produtivas são também dominantes o que confere uniformidade na qualidade da carcaça e da carne.
Qualidade da carne
No entanto será a excepcional qualidade da carne que a torna tão famosa. A elevada deposição de gordura intramuscular, (i.e. o marmoreado) que confere à carne sabor; a sucolência e a tenrura valem-lhe o rótulo da "melhor carne do mundo (foto 5).
A alteração das estratégias de produção e de comercialização, maior enfoque na qualidade em detrimento da quantidade e na procura de sistemas de produção mais sustentáveis em termos económicos e ambientais é e será a "chave" para o sucesso da bovinicultura de carne. Para mais, quando o consumidor actual aprova esta opção não só em termos éticos mas também na sua origem, o que permite uma maior valorização à produção.
A carne Angus é já uma marca de prestígio mundialmente conhecida pela consistente qualidade que possui, sendo promotora de vários programas de certificação (e.g. Certified Angus Beef - EUA). A qualidade sensorial que a Angus naturalmente possui torna-a de eleição pela gastronomia de elite, como é exemplo o famoso Concurso Mundial de Cozinha - Bocuse d'Or 2009.
A Aberdeen-Angus
em Portugal
A raça tem sido usada em Portugal há décadas como cruzamento terminal através da inseminação artificial. A selecção em linha pura terá pelo menos uma década, aquando da importação de animais da Alemanha.
A raça Aberdeen-Angus foi reconhecida em Portugal a 27 de Novembro através da instituição do seu Livro Genealógico pelo Ministério da Agricultura do Desenvolvimento Rural e das Pescas, através da Direcção Geral de Veterinária.
A gestão do Livro foi concedida à Federação Agrícola dos Açores com o apoio da Secretaria Regional da Agricultura e Florestas nos Açores, através da sua Direcção Regional do Desenvolvimento Agrário.
O primeiro impulso no efectivo da raça ocorreu no início de 2008 com a importação da Irlanda de 57animais com destino a explorações no Continente e arquipélago dos Açores (foto 6).
A Federação Agrícola dos Açores será responsável pela identificação e registo de animais em linha pura a nível Nacional, primando pela selecção genética (e.g. facilidade, o baixo peso à nascença e a precocidade no acabamento) de animais de qualidade adaptados às condições de produção e aos vários segmentos de mercados.
Aumento do efectivo
Neste momento o maior constrangimento ao desenvolvimento da raça é a falta de animais pela procura que têm, não só para o aumento dos núcleos criados como para o uso em cruzamento. Assim a Federação Agrícola dos Açores e a Associação Agrícola de São Miguel/Cooperativa União agrícola estão a auxiliar vários criadores na organização de uma nova importação a partir do Reino Unido.
Neste momento os animais (cerca de 60) já estão seleccionados de várias explorações de referência, entre as quais a Rosemead Herd fundada nos anos 30 e a The Moss Herd na década de 60. Ambas possuem uma grande tradição na selecção genética produzindo toiros campeões como o Rosemead Jeronny F692 - Campeão no Royal Show 2008 ou Etambo of The Moss - Campeão de Perth em 1998.
Após o cumprimento de todas as exigências sanitárias para trocas intra-comunitárias os animais terão como destino nos Açores criadores das ilhas do Faial, Graciosa, Pico, S. Miguel e Terceira.
Paulo Costa
Secretário Técnico
Técnico da Federação Agrícola dos Açores