Nutrição da cultura do milho e interpretação de análises de solos (2º parte) | Informações Técnicas


Compreender a análise da terra

A análise de terra para recomendações de fertilização mede os teores de matéria orgânica e de nutrientes assimiláveis do solo, bem como o pH. Já vimos que a classificação do pH é feita através de uma escala própria. Os nutrientes minerais são classificados em cinco classes no tocante à quantidade na forma assimilável que existe no solo:

Muito baixa: - Significa que a terra é muito pobre no elemento e que para que as plantas produzam adequadamente é necessário aplicar quantidades elevadas do nutriente;

Baixa: - A terra é ainda pobre, necessitando de quantidades elevadas do nutriente, embora menores que no caso anterior;

Média: - A terra tem uma quantidade do nutriente razoável, necessita de quantidades médias do nutriente;

Alta: - A terra tem quantidades do nutriente satisfatórias mas para atingir altas produções precisa da aplicação de uma quantidade moderada do nutriente.

Muito alta: - O solo é muito rico no nutriente, só em alguns anos e para altas produções se justifica a sua aplicação, sempre em quantidades moderadas.

A unidade de medida mais frequentemente usada nos laboratórios de terras é a que apresenta os parâmetros em ppm (que se lê partes por milhão) e tem o mesmo significado que mg/kg. Por exemplo, 30 ppm ou 30 mg/kg de P2O5, têm o mesmo significado, isto é, num kg de terra encontram-se 30mg de fósforo assimilável, expresso em P2O5.

Uma parcela cuja análise revele que, por exemplo, o fósforo está na classe muito baixa, poderá necessitar de uma adubação com cerca de 150kg de P2O5, enquanto uma parcela em que o teor se encontra na classe alta necessita apenas de 50 kg de P2O5, admitindo que as duas parcelas podem atingir a mesma produção. Vejamos o exemplo do seguinte boletim de análise de terra, duma parcela destinada à cultura do milho:

 

Fósforo                                                             30 ppm          Muito baixo

Potássio                                                            190 ppm        Muito alto

Magnésio                                                          125 ppm        Muito alto

Zinco                                                                0,8 ppm         Baixo

Matéria orgânica                                               4,1 %            Alto

Textura                                                             Grosseira

pH                                                                    5,3

Necessidade de cal                                           8 t/ha de carbonato              

                                                                         de cálcio

 

Recomendação:

8 t/ha de carbonato de cálcio

200 kg/ha de azoto (N)

130 kg/ha de fósforo (P2O5)

3 kg/ha de zinco (correspondentes a 4 kg de óxido de zinco)

 

Como proceder à fertilização?

A calagem deve ser a primeira operação a ser realizada. Como a quantidade a aplicar é muito grande, pode ser aplicada em 2 anos, aplicando metade logo no primeiro ano, ou seja, 4 toneladas. Se utilizar cal será conveniente utilizar menos, cerca de 1,5 t/ha. Só depois da incorporação do calcário ou cal, com uma lavoura, se deverá proceder à distribuição do fósforo e azoto e outros nutrientes que sejam recomendados.

No caso do azoto, podemos aplicar 1/3, ou seja, 60 a 70 kg/ha, em fundo e o restante em cobertura, quando o milho atingir a altura do joelho (milho joelheiro). O fósforo e zinco devem ser aplicados em fundo. Se tivermos adubos simples, por exemplo nitrato de amónio a 27% e superfosfato de cálcio a 18%, será fácil de determinar a quantidade a aplicar.

 

Azoto:

- 100 kg de adubo (2 sacas) a 27% de N correspondem a 27 kg de N

- 225 kg de adubo (4 sacas e meia) correspondem a 61 kg de N

Ou seja, com 225 kg/ha, 4sacas e meia, aplicamos a quantidade de azoto pretendida em fundo. Convém relembrar que não é conveniente aplicar muito azoto nítrico em fundo e que o nitrato de amónio contém metade do seu azoto naquela forma.

 

Fósforo:

- 100 kg de adubo (2 sacas) a 18% de P2O5 correspondem 18 kg de P2O5

- 725 kg de adubo (14 sacas e meia) correspondem 130 kg de P2O5.

Com 725 kg/ha de superfosfato a 18% obtínhamos a fertilização em fósforo pretendida.

Faltaria a aplicação de zinco. Não havendo de óxido de zinco ou sulfato de zinco no mercado, a maneira mais simples de resolver o problema era recorrer a um adubo com zinco ou, em alternativa, utilizar um chorume de porco, produto que é rico neste nutriente. A aplicação de zinco, num caso como o do exemplo, seria imperativo caso fosse feita a calagem. Não havendo zinco no mercado seria uma opção válida só proceder à calagem no ano seguinte, uma vez que a calagem poderia insolubilizar o zinco disponível, agravando em muito a sua carência, com consequências graves na produção.

 

E dispondo também dos adubos

compostos 20-20-0 e 25-15-0 ?

Nestes casos, o mais simples é verificar qual o equilíbrio da adubação de fundo. Admitindo que se pretendia, tal como no exemplo anterior, aplicar 1/3 do azoto em fundo, ficaria (ver Fig. 1).

É fácil verificar que a adubação com aqueles adubos compostos fica muito abaixo do pretendido em fósforo no caso de se aplicar apenas cerca de 60 kg de azoto. Poderia ser vantajoso aplicar o fósforo em falta na forma de superfosfato de cálcio se o preço dos adubos assim o justificasse. O custo da adubação deve ser sempre um factor a ter em conta na escolha dos adubos.

 

E se aplicasse todo

o azoto em fundo?

Nestes casos será conveniente utilizar adubos em que o azoto é convertido em nitrato de forma mais lenta, sendo conhecidos no mercado por adubos específicos ou com azoto estabilizado. A quantidade total de azoto deve ser reduzida em cerca de 20% nestes casos. As vantagens destes adubos consistem na menor aplicação de azoto e menores despesas de distribuição.

De qualquer modo, tendo em atenção o exemplo, pode verificar-se que a quantidade necessária de fósforo seria muito ultrapassada com qualquer dos adubos. Dependendo dos custos do adubo, a opção poderia ser (ver Fig. 2).

No caso de se utilizar o adubo 20-20-0, seriam necessários 650 kg/ha, devendo aplicar-se em cobertura 100 a 200 kg/ha de nitrato de amónio 27% (de acordo com o desenvolvimento das plantas e da forma como decorrer a cultura, será mais fácil, mais tarde, determinar a quantidade a aplicar em cobertura). Neste caso não conviria aplicar o nitrato de amónio em fundo dada a quantidade elevada de azoto nítrico que este adubo contém.

Optando pelo adubo 25-15-0, verifica-se que a adubação seria deficiente em fósforo, faltando cerca de 25 unidades. A incorporação de 150 kg de superfosfato a 18 % seria a melhor opção.

 

Conselhos práticos:

- Sempre que a recomendação de fertilização permita um ajustamento com adubos compostos, estes devem ser preferidos. São mais práticos de aplicar, dispensam misturas que são sempre difíceis de distribuir de forma uniforme no terreno. É suficiente, na maioria dos casos, fazer os cálculos de aplicação até meio saco, não havendo a preocupação de colocar a mais ou a menos quatro ou cinco quilos de adubo por hectare.

- Não misturar adubos com calcário ou cal. Distribuir o calcário, proceder a uma lavoura ou gradagem e só depois proceder à distribuição do adubo a lanço.

- Aplicando parte da adubação de fundo a lanço e parte localizada (na linha), conduz, geralmente, a melhores resultados, uma vez que proporciona um arranque mais rápido às plantas.

- Nos casos em que haja possibilidade de localizar o adubo, isto é, ficar colocado perto da semente, não colocar mais de 40 kg/ha de azoto na linha. Por exemplo, no caso do adubo 20-20-0, não usar mais de 200 kg/ha na forma localizada.

 

Eng.º António Videira da Costa