Carências de oligoelementos minerais em solos vulcânicos e stress oxidativo em ruminantes | Informações Técnicas


A presença de quantidades adequadas de macro e micro minerais na dieta dos ruminantes é essencial para que estes tenham uma performance zootécnica ideal. No entanto, em regimes de pastoreio nem sempre é fácil colmatar todas estas necessidades, especialmente em solos vulcânicos, onde a deficiência de alguns destes minerais é mais pronunciada.

Neste artigo, iremos destacar algumas deficiências de oligoelementos minerais (micro minerais) que foram encontradas em solos vulcânicos e abordar um problema daí decorrente: o stress oxidativo, implicado em muitos dos problemas de reprodução e imunidade que enfrentamos nas nossas explorações.

Os sinais de carência de minerais em bovinos podem ser muito inespecíficos, sendo exemplos clássicos: a perda acentuada de peso/ fraco crescimento, má pelagem (queda e descoloração), doenças de pele, abortos não infeciosos, diarreia, perda de apetite, anomalias ósseas, tetania, baixa fertilidade ou até mesmo perversão do apetite (conhecida por "pica").

Apesar das deficiências de macro minerais poderem ocorrer, pelo facto de estes estarem disponíveis nas pastagens em maior quantidade, é menos provável que ocorram quando comparado com as deficiências de micro minerais (oligoelementos minerais).

Existem vários estudos a nível internacional realizados no âmbito da quantificação de oligoelementos minerais em solos vulcânicos, sendo que nos Açores, um estudo nesta matéria foi realizado pelo Professor Doutor Carlos Pinto.  Este estudo demonstrou que estas deficiências nos solos se refletiam em deficiências nos animais ao nível do zinco, cobre, selénio, iodo e cobalto. Neste estudo, foram analisadas 500 amostras de sangue bovino, com uma média de 7 animais por exploração. As amostras foram recolhidas em vacas, novilhas e vitelos recém-nascidos da raça Holstein-Frísia, e também em bovinos de raça Brava, Limousine, Charolesa e cruzados. Integraram o estudo 71 explorações: 53 de são Miguel, 9 da Terceira, 6 da Graciosa, 2 de Santa Maria e 1 do Corvo. A metodologia de rastreio consistia em colher amostras em animais saudáveis, em explorações com problemas de infertilidade, abortos e partos prematuros, problemas de patas/ cornos, mortalidade elevada em vitelos e/ou fraco desenvolvimento nas novilhas. No estudo conclui-se que:

Deficiências de oligoelementos minerais e consequente stress oxidativo

O stress oxidativo não é mais do que um desequilíbrio entre a produção de espécies reactivas de oxigénio (EROs) e a sua correta remoção pelos sistemas enzimáticos e não enzimáticos do organismo. A produção de espécies reativas de oxigénio é um fenómeno fisiológico decorrente do normal metabolismo das células. No entanto, quando o organismo não tem capacidade de as eliminar eficazmente estabelece-se então dano celular. Podemos fazer uma analogia muito válida, comparando o efeito do stress oxidativo nas células ao efeito que o oxigénio tem sobre a superfície de uma maçã cortada exposta ao ar. O fenómeno que tem lugar numa célula exposta a stress oxidativo é muito semelhante ao da maçã oxidada.

Assim sendo, quando este fenómeno toma determinadas dimensões, coloca em causa não só a saúde da célula, mas também nalgumas circunstâncias a própria viabilidade da mesma, podendo levar à sua morte. Podemos estar a falar duma célula germinativa (oócito ou espermatozoide), ou duma célula do sistema imunitário presente por exemplo na glândula mamária ou nas vias respiratórias. Isto significa que apesar de existirem células mais predispostas que outras ao stress oxidativo, este é um fenómeno que pode afetar várias células, vários órgãos, vários sistemas e daí, tão rapidamente impactar na saúde e performance dos animais.

 

Como se pode minimizar o stress oxidativo

O stress oxidativo é um fenómeno fisiológico e natural, no entanto, é possível, controlá-lo para que não alcance proporções que comprometa a saúde dos animais. Do ponto de vista alimentar, conseguimos atenuar também o stress oxidativo formulando dietas com base nas recomendações internacionais que garantam as quantidades ideais de 2 importantes grupos de antioxidantes:

Vitaminas: A, D e C (esta última pouco relevante nos ruminantes uma vez que estes a conseguem produzir ao contrário do Homem)

Minerais (oligoelementos): cobre, zinco, selénio e manganês. Estes minerais são importantes auxiliares de enzimas (neste caso antioxidante) que têm o papel de eliminar estes compostos prejudiciais das células.

As deficiências de vitaminas antioxidantes são menos pronunciadas em regimes de pastoreio, pelo que na gestão do stress oxidativo é necessário prestar especial atenção aos oligoelementos minerais, como pudemos constatar pelo estudo realizado em que se observaram significativas carências destes minerais.

As deficiências de oligoelementos minerais são agravadas em sistemas de pastoreio pois, não só estão presentes em baixas quantidades como verificámos, como a pouca quantidade presente na pastagem não consegue ser absorvida de forma eficiente sendo por conseguinte a sua biodisponibilidade muito baixa.

 Existem vários estudos científicos que descrevem as razões pelas quais os ruminantes não conseguem obter da dieta a quantidade ideal de oligoelementos minerais. Na tabela seguinte, estão de forma resumida, enunciadas as principais razões pelas quais as necessidades são elevadas e a disponibilidade muitas vezes baixa:

Assim, em momentos críticos do ciclo de vida de produção e reprodução dos bovinos, quando a exigência de oligoelementos minerais é alta e a ingestão baixa, a alimentação não é suficiente para os animais atingirem a sua melhor performance.

Impacto do Stress oxidativo na saúde, produção e reprodução

Sendo a gestão do stress oxidativo fulcral em todas a células da vaca, é ainda mais importante em células metabolicamente mais ativas como é o caso de células reprodutivas, ou células do sistema imunitário. Sabe-se hoje, que o stress oxidativo descontrolado impacta na saúde e fertilidade dos animais.

 

IMUNIDADE

- Maior incidência de mamites

- Aumento de células somáticas

- Resposta imunitária contra

    infeções ineficiente

- Falha vacinal

 

REPRODUÇÃO

- Diminuição da fertilidade

- Aumento de mortes embrionárias

- Aumento de retenções placentárias

Estando a gestão do stress oxidativo intimamente dependente de corretos níveis de oligoelementos minerais, facilmente se entende que a sua deficiência ainda que subclínica, se pode traduzir em problemas reprodutivos:

Sabemos hoje que os solos vulcânicos são pobres em alguns minerais e que esta deficiência se reflete ao nível do animal levando a problemas reprodutivos e de imunidade. A suplementação com oligoelementos minerais deve ser realizada de forma estratégica para minimizar o stress oxidativo, sendo que por via oral nem sempre conseguimos atingir absorção ideal para suprir todas as necessidades dos animais.

Discuta com o seu veterinário assistente estratégias de maneio que pode adotar na sua exploração para minimizar o impacto do stress oxidativo, nomeadamente no que diz respeito a um fornecimento mais preciso de oligoelementos minerais.

 

(Para consultar referências bibliográficas, por favor contactar o autor)

 

Marta Rodrigues

Médica Veterinária @ Vetlima

m.rodrigues@vetlima.com

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