Fábrica de Rações Santana
A Nutrição ao Serviço da Lavoura
O sector leiteiro no seu conjunto (produção – transformação – comercialização) está a atravessar um momento especialmente adverso, como dificilmente seria previsível, mesmo atendendo ao fim das quotas leiteiras que ocorreu este ano.
Trata-se de uma crise com âmbito global, decorrente da “tempestade perfeita” que resulta da conjugação de 3 fatores que ocorreram em simultâneo:
1 – aumento global da produção leiteira (mais de 10.000 milhões de ton no conjunto da UE+EUA+NZ)
(6.040 MT na União Europeia + 2.200 MT nos Estados Unidos + 1.830 MT na Nova Zelândia)
2 – redução do consumo de leite em todo o mundo, em resultado de campanhas negativas
3 – diminuição drástica de importações por parte da China e da Rússia (embargo comercial)
Assim, estamos perante uma crise sem precedentes, que já obrigou à tomada de decisões políticas no conjunto da UE (envelope financeiro de 420 milhões de euros de ajuda ao sector) e a iniciativas de diversos países europeus para promoção do seu leite nacional junto dos seus distribuidores e consumidores. Por cá, também interessam iniciativas dessas, na medida em que, a nível nacional, na campanha de 2014, produziram-se mais 100 milhões de litros de leite e consumiram-se menos 130 milhões, tendo-se criado excessos de 230 milhões de litros de leite “made in Portugal”.
Como nunca antes, estamos perante o desafio de sabermos diferenciar e valorizar melhor o leite que produzimos, fazendo com que seja mais procurado, preferido … e consumido por parte dos nossos distribuidores e consumidores. Mais que nunca, a produção leiteira para poder ter futuro terá que ser capaz de:
1 – potenciar mais-valias do leite que produz, valorizando características intrínsecas que decorrem de sistemas de produção com condições ímpares (o leite dos Açores é naturalmente mais rico em ómega-3 e/ou CLA – com manifestos efeitos positivos para a saúde humana, na redução e prevenção do risco de doenças cardiovasculares, neuro-degenerativas, oncológicas, diabetes, etc)
2 – competir comercialmente com outros sistemas de produção, que são cada vez mais eficientes e eficazes
Muito já foi feito, mas muito mais ainda teremos que continuar a melhorar em genética, em sanidade, em maneio … No entanto, é na área da nutrição / alimentação animal que mais deveremos contribuir em termos de inovação e desenvolvimento de novos conceitos e produtos, para que a produção leiteira seja economicamente cada vez mais competitiva, mas também mais saudável (simultaneamente para os animais e para os consumidores das suas produções) e cada vez mais sustentável do ponto de vista ambiental.
É esta tríplice perspetiva (produção saudável para animal e consumidor, economicamente competitiva e ambientalmente sustentável) que permite aos Açores ambicionar a ter vantagens competitivas em relação a outras zonas e sistemas de produção.
A atual crise global no sector leiteiro constitui uma oportunidade para os Açores poderem potenciar a sua produção, com base nos seguintes pontos-chave (em termos de alimentação e nutrição animal):
1 – maximizar a eficiência / eficácia alimentar (kg de leite produzido por kg de alimentação-global)
2 – melhorar a qualidade das forragens existentes (silagens de milho e feno-silagens/rolos de erva)
(com base em análises de 446 silagens de milho e 251 fenosilagens, constatou-se oportunidade de melhoria até 332 euros/vaca/ano)
3 – explorar a possibilidade / viabilidade de novas culturas forrageiras, nomeadamente a cultura da luzerna
4 – atenção a eventuais oportunidades de novos sub-produtos das indústrias agro-alimentares
(com recurso a diversos sub-produtos agro-industriais, pode-se conseguir poupanças no arraçoamento-global até 400 euros/vaca/ano)
5 – racionalizar a utilização do nutriente sempre mais caro na alimentação das vacas leiteiras – a proteína
6 – diferenciar positivamente/valorizar economicamente as mais-valias intrínsecas das produções dos Açores.