Fábrica de Rações Santana
A Nutrição ao Serviço da Lavoura
A primeira referência em território nacional a vacas pretas e brancas provenientes do norte da Europa, mais propriamente da foz do Reno, surgiu no Ribatejo em meados do século XVIII. No entanto fruto de uma melhor climatização, acabou por ser na foz do rio Vouga que os animais da raça Frísia melhor se adaptaram, sendo o Baixo Vouga considerado o solar da raça Frísia portuguesa. Nos Açores embora se reporte apenas aos finais do século XIX a existência de animais desta raça, a forma surpreendente com que se adaptaram à região, leva que tenhamos de considerar também os Açores como parte do solar desta raça impar para a produção de leite. Foi a partir do fim dos anos noventa do século passado que se iniciou o registo de animais açorianos no Livro Genealógico português da raça, primeiro na ilha de S. Miguel, fruto do protocolo estabelecido entre a APCRF e a Associação Agrícola de S. Miguel, tendo mais tarde estendido o registo aos animais das ilhas Terceira, Pico e ao Faial. Nessa altura, quando os classificadores do Livro Genealógico começaram a classificar os animais de São Miguel era ainda possível diferenciar em algumas explorações, animais pertencentes ao tronco Frísio, o chamado Holando Micaelense de animais totalmente Holsteinizados. A existência de animais já marcadamente Holstein devia-se não apenas ao facto dos Açores terem sido a primeira região do país a usar sémen proveniente da América do Norte, mas também à aplicação na década de noventa de embriões originários do Canadá. Nos últimos quinze anos assistimos a um esforço enorme em prole do melhoramento da raça por parte dos criadores micaelenses. É certo que a este incremento não é alheio a grande importância que o setor tem para a região, bem como a relação de proximidade existente entre os criadores e as suas estruturas associativas. No caso particular de São Miguel, deve-se destacar a Associação Agrícola de São Miguel, e o esforço notório efetuado por ela na formação dos criadores e jovens criadores, organizando cursos técnicos ligados à raça, bem como colocando à disposição dos criadores associados serviços ligados ao melhoramento, como o emparelhamento corretivo ou o acesso facilitado à tecnologia de transplantes de embriões. Uma observação atenta dos gráficos com as médias por grande região das classificações morfológicas realizadas nos últimos quinze anos em S. Miguel, permite concluir que embora se tenha observado um ligeiro recuo nos dois primeiros anos, a partir daí assistiu-se a um crescimento constante do valor fenotípico dos animais, que se traduziu também no melhoramento genético do efetivo, no que respeita ao Tipo. Uma nota interessante a ressalvar, é que embora a Região Autónoma dos Açores represente cerca de 16,7% das classificações morfológicas realizadas anualmente para o Livro Genealógico, a percentagem de vacas da região com a classificação Excelente (EX) no todo nacional é de 70%. Para melhor compreender a evolução que o efetivo Holstein Frísio teve nesta ilha ao longo da última década, basta observar os excelentes exemplares presentes no concurso que anualmente se realiza nesta ilha. As campeãs bem como os animais melhores classificados em pista, estão ao nível do que é apresentado nos melhores concursos europeus. Nos tempos difíceis que se aproximam para o setor leiteiro nacional, com a liberalização da produção no espaço comunitário, possuir animais mais funcionais será seguramente uma mais valia. Espero que para os Açores em geral e para a ilha de S. Miguel em particular, o esforço efetuado nos últimos vinte anos em prole do melhoramento da raça Holstein Frísia frutifique, tornando mais competitiva a produção de leite, naquela que é seguramente uma das regiões com maior aptidão em toda a Europa. Eng.º Samuel Pinto Secretário Técnico da APCRF