Fábrica de Rações Santana
A Nutrição ao Serviço da Lavoura
No ano 2007 a ASSM/CUA publicou aqui um artigo sobre silagem e ensilagem com o título "Como obter uma silagem de boa qualidade - um ponto fundamental na produção leiteira", onde o autor do mesmo apresentou os princípios básicos que a totalidade dos artigos científicos sobre o tema e a prática confirmam. Entretanto, aconselhamos uma nova leitura do artigo referido, uma vez que o que agora publicamos será um complemento do mesmo, já que o artigo de 2007 não indicava o "modus operandi" quando a silagem tinha um teor de matéria seca superior ao habitual. Como é sabido, todos os autores referem como ideal existir um teor de matéria seca (MS) de 30% a 35% na silagem de milho, números que a prática e os resultados confirmam. Neste contexto, põe-se a questão sobre o que fazer quando a percentagem de MS da forragem a ensilar é superior à máxima aconselhada.
Encontram-se publicações sobre o assunto em questão que relatam a existência de silos especiais com processos mecânicos de extracção de ar, que pouco tem a ver com a realidade Açoriana. Essa realidade leva-nos a recordar que os processos de ensilagem actualmente existentes podem conseguir uma boa silagem se forem praticados com o rigor adequado às circunstâncias. Advertimos que o processo de conservação em silagens com um teor de MS superior aos 37% ou próximo dos 40%, apesar de possível, não é nada fácil pois requer silos com condições adequadas e práticas de ensilagem rigorosas que possibilitem uma eficaz extracção de ar do interior do silo. Será que os silos em trincheira existentes nos Açores possuem características que permitam conseguir a conveniente extracção de ar de modo a conseguirem-se rapidamente as necessárias condições de anaeróbiose indispensável para uma boa fermentação da massa ensilada?
A importância da eliminação do ar do interior do silo
Conforme já referido no artigo anterior, a conservação da silagem só se consegue quando esta atinge um pH baixo adequado, que se consegue devido á presença de ácido láctico e outros ácidos orgânicos, que são produzidos por bactérias anaeróbias das plantas tais como Lactobacillus plantarum, Enterococcus faecium, Pediococcus acidilactici e outros tipos de Lactobacillus. Porém essas bactérias anaeróbias só se desenvolvem se existirem as seguintes condições:
1. Presença de açúcares disponíveis e daí ser necessário a trituração das plantas para que estes fiquem mais disponíveis.
2. Ausência de oxigénio (ausência de ar ou anaerobiose), para que existam as condições adequadas que possibilitem a rápida proliferação das bactérias anaeróbias e consequente produção dos ácidos orgânicos que fazem descer o pH, possibilitando as condições óptimas de conservação.
Será possível remover todo o ar do silo? Não, pois mesmo com uma razoável compactação, uma silagem com o teor de MS adequado apresenta sempre alguma quantidade residual de ar. O que faz então desaparecer esse ar indesejável que ainda ficou no interior do silo? A acção de dois tipos de bactérias existentes em duas fases distintas:
a) Fase aeróbia (ainda alguma presença de ar). Esta fase ocorre logo após o fecho do silo, quando, devido á presença do ar ocorre a respiração celular da massa ensilada e a respiração das bactérias aeróbias (que vivem na presença de ar), nomeadamente os Clostridium, Coliformes e fungos, etc, presentes na massa ensilada. Durante a respiração das plantas são utilizados carbohidratos solúveis presentes na massa ensilada, produzindo gás carbónico e elevando a temperatura. Em condições óptimas de ensilagem em que a presença de ar é reduzida ao mínimo possível, esta fase cessa assim que todo o oxigénio do ar presente estiver consumido, situação que normalmente se verifica ao fim de 24 horas. Entretanto, durante esta fase ocorreu já alguma perda de nutrientes, especialmente açúcar e energia. Quanto mais prolongado for o tempo deste processo, devido a uma maior presença de ar por motivo de uma inadequada extração do ar, maior será a deterioração da silagem e a perda do valor alimentar.
b) Fase anaeróbia (ausência de ar). Esta fase inicia-se logo que ocorra a total eliminação do oxigénio do ar existente na fase aeróbia. A respiração da massa ensilada e das bactérias aeróbias eliminam todo o oxigénio existente criando assim condições óptimas para o desenvolvimento das bactérias anaeróbias que sempre estiveram presentes na massa ensilada, mas que só se tornam activas quando se estabelecem as condições de anaerobiose.
Facilmente será de concluir que todos os requisitos aqui referidos e as restantes práticas com vista á obtenção de uma silagem de qualidade dependem sempre da maior ou menor quantidade de oxigénio (ar) que ficou dentro da matéria ensilada.
Sabendo que quanto maior for a matéria seca da forragem a ensilar, maior será a dificuldade em fazer a compactação da mesma conclui-se que, se não melhorarmos as práticas que contribuam para reduzir ao mínimo o ar no silo, não conseguiremos uma silagem de qualidade ou utilizável. Numa silagem mal compactada existe sempre um excesso de ar (aerobiose excessiva) que permite o desenvolvimento de bactérias nocivas que promovem uma grande degradação e diminuição dos nutrientes (proteína, açucares, etc), putrefação e desenvolvimento de bolores que dão origem a micotoxinas e a diversas patologias.
Apuramento das práticas adequadas durante o enchimento do silo:
1. A picagem (corte) das plantas tem como objectivo facilitar a compactação, o rompimento das células permitindo a rápida actuação das bactérias fermentativas e o consumo da silagem pelo animal. Para o tamanho ideal das partículas, que em situações normais (30 a 35 % de MS) seriam cerca de 1 a 1.5 cm (máximo 2.0 cm) para o milho e até 4 cm para a erva (azevém), em situações de MS mais elevada será aconselhável uma média de tamanho das partículas de 1 cm para a silagem de milho, uma vez que as partículas mais finas facilitam a compactação.
2. O enchimento do silo deverá ser feito dentro do menor espaço de tempo possível, e nunca interrompido por mais de 24 a 48 horas consecutivas. Antes de reiniciar qualquer enchimento interrompido dever-se-á compactar o silo para que haja expulsão do ar.
3. Expulsão do ar durante o enchimento do silo - compactação; A massa forrageira picada deverá ser espalhada uniformemente por todo o silo em camadas de 0.5 metros (1 metro em situações normais), e compactada cuidadosamente, de forma contínua, camada a camada. A última camada deverá ficar um pouco acima dos bordos superiores das paredes laterais do silo para evitar o surgimento de bolsas de ar por dificuldade de ajustamento do plástico à matéria da forragem ensilada.
4. Isolamento da massa ensilada à entrada de ar e água. O isolamento do silo é importante porque visa impedir a entrada de ar e água, e para tal existem regras importantes a seguir:
a) Regra: Cobrir com plástico preto resistente e sem buracos. Ajustar o plástico utilizando cintas apropriadas (o mais aconselhado) e calcar com utensílios de modo a eliminar ao máximo as bolsas de ar existentes entre a silagem e o plástico. Para garantir um ajustamento do plástico à silagem será sempre mais eficiente cobrir todo o silo com terra, abrangendo portanto as partes laterais e as partes superiores do plástico que cobre o silo.
b) Cobrir as abas do plástico, nas partes laterais e frente do silo com terra de modo a que as abas fiquem totalmente cobertas e devidamente coladas ao chão para vedar totalmente a entrada de ar. A melhor maneira de evitar a existência as bolsas de ar na parte da frente do silo será também a sua cobertura total com terra.
Substancias a utilizar para o auxilio da fermentação
1. O melaço de cana (que é um produto muito rico em açúcares que são o substrato ideal para o desenvolvimento das bactérias anaeróbias) além de aumentar a apetência e o valor energético da silagem, tem a vantagem de aumentar a humidade dentro do silo porque é utilizado na forma diluída (melaço + água) para facilitar a sua aplicação. Obviamente que este aumento de humidade só é desejável nos casos em que a forragem a ensilar tenha um teor de matéria seca elevado (exemplos: silagem de milho com matéria seca superior a 35% ou azevém com pré-fenagem mal controlada). No entanto, há que ter em atenção de que se for usado na erva (azevém) ou luzerna pode ter efeitos adversos devido ao alto teor de humidade que essas plantas já possuem.
2. Uso de acidificantes. A rápida acidificação da massa da forragem ensilada, logo após o enchimento do silo, através da aplicação directa de um ácido orgânico pode ser suficiente para bloquear as primeiras fermentações indesejáveis provocadas pelas bactérias aeróbias e estabilizar o ensilado através do melhoramento do pH. Mesmo na pequena presença de ar dentro do silo, se existir um pH mais ácido, este protege a silagem da formação do ácido butírico e evita a destruição de proteínas uma vez que cria condições adversas ao desenvolvimento das bactérias indesejáveis. O ácido orgânico mais utilizado é o ácido fórmico, quer directamente durante a recolha, quer no momento do enchimento do silo. Este ácido é, na realidade, o mais recomendado devido ao seu grande poder acidificante e a uma correcta acção selectiva sobre as bactérias não desejáveis. No caso de silagens com um teor de MS superior a 35 %, recomendamos o uso de dois produtos que têm na sua composição dois tipos diferentes de ácidos orgânicos: SILENERGI e SILENERGI Liquido:
a) O SILENERGI é um acidificante orgânico, comercializado pela Zoopan, baseado no ácido fórmico incorporado num substrato que impede a libertação de vapores tóxicos para o homem (formiato de cálcio). Pode substituir com vantagem os inoculantes no caso das silagens de milho ou melhorar a actividade destes quando associados, pelo facto de propiciar o meio ácido adequado, no mais curto espaço de tempo. Este produto pode ser utilizado em todos os tipos de silagem independentemente da percentagem de MS que estas contenham.
b) O SILENERGI Liquido, também comercializado pela Zoopan, é constituído por dois tipos de ácidos orgânicos (ácido propiónico e propionato de amónio) que adicionados a tensioactivos aniónicos formam uma mistura completamente solúvel na água.
3. Uso de inoculantes. A inoculação com bactérias benéficas pode favorecer a obtenção de silagens ácidas. As bactérias que mais se adequam a esta função são as bactérias homofermentativas e dentro destas as mais eficazes são os Enterococcus Faecium, Lactobacilus plantarum, os Pediococcus acidilactici e os Lactobacilus salivarios. Estas são as estirpes de bactérias ácido-lácticas que estão presentes no SIL-BIO Max ou no ZOOMAZE Plus, produtos comercializados pela Zoopan e Cua.
O SIL-BIO max é um conservante biológico de silagens baseado numa combinação de 4 estirpes seleccionadas de bactérias produtoras de ácido láctico (Enterococcus faecium, Lactobacilus plantarum, Pediococcus acidilactici e Lactobacilus salivarios) e de enzimas para o tratamento de forragens verdes, pré-fenadas e em rolos.
O ZOOMAIZE PLUS é um conservante biológico de silagens baseado numa combinação de 3 estirpes seleccionadas de bactérias produtoras de ácido láctico (Enterococcus Faecium, Lactobacilus plantarum e Lactobacilus busheneri) e está destinado a reduzir o crescimento fúngico e promover a fermentação da forragem, incluindo a silagem de milho.
Mário Miraldo
ZOOPAN, S.A.