“Apelo a que haja uma grande votação que nos legitime e responsabilize para fazer mais e melhor...” | Agricultor 2000


No próximo dia 14 de Julho, a Associação Agrícola de São Miguel e a Cooperativa União Agrícola vão novamente a votos e a Direção presidida por Jorge Rita e restantes órgãos sociais, incluem novos elementos que representam mais de 30% da composição da lista. Apesar de ser uma lista única a apresentar-se a votos, Jorge Rita apela a que os associados e cooperantes compareçam em massa no dia das eleições porque com a lavoura mais unida em redor dos seus líderes, a Direção fica com mais responsabilidade para liderar as reivindicações nestes tempos difíceis por que passa o setor. Sem avançar com promessas, Jorge Rita apenas quer aumentar o rendimento dos agricultores e, desta forma, o aumento do preço do leite assume-se como uma luta prioritária

- Vai novamente a eleições sem listas concorrentes, é sinal que os associados depositam confiança novamente nesta direção para lhes dar voz?

Jorge Rita - Essa é uma leitura que pode ser feita. O nosso trabalho tem sido sempre em prol das pretensões dos agricultores, nem sempre temos conseguido todos os nossos objetivos, mas a nossa forma de trabalhar vai sempre no sentido de melhorar o rendimento dos agricultores de várias formas.

Do facto de não haver outra lista que se tivesse apresentado às eleições pode-se tirar várias ilações mas não me compete fazer essas análises. Nunca escondi que me candidatava novamente, e este mandato passa para quatro anos por obrigatoriedade do Código Cooperativo que obrigou à alteração de estatutos.

Queremos continuar a trabalhar em prol dos agricultores que é o que temos feito ao longo desses anos e tem sido esse o nosso lema. O facto de não aparecer mais nenhuma lista é sinal que se pode fazer uma leitura de confiança nesta Direção e nos Corpos Sociais que têm estado ao longo desses anos. Se calhar como confiam as pessoas não se querem sujeitar a formar uma nova lista.

- Esta lista candidata inclui alguma renovação?

J. R. - Sem dúvida, a renovação é de mais de 30% dos elementos dos corpos sociais, sendo esta uma forma de trazer novos associados a participarem na gestão da Associação Agrícola de São Miguel e da Cooperativa União Agrícola, nomeadamente, com a inclusão de jovens.

A lista finalizada está equilibrada e pretende representar todos os concelhos da ilha e diferentes tipos de explorações agropecuárias, incluindo também representante da área da diversificação agrícola.

- Tem promessas para o novo mandato?

J. R. - Com este ato eleitoral à porta não vou fazer promessas porque nunca as fiz, a não ser no primeiro mandato. A nossa única promessa é trabalhar. O que temos de fazer não é feito na altura dos atos eleitorais, fazemo-lo quando entendemos que estão reunidas as condições necessárias.

Aquilo que são as nossas infraestruturas de hoje da Associação e da Cooperativa não têm nada a ver com o que eram quando eu entrei para Presidente da Direção. Atualmente a Associação Agrícola de São Miguel e a Cooperativa União Agrícola são duas instituições totalmente diferentes do passado. Não quero dizer com isto que não há mérito dos meus antecessores, porque quem criou a Associação e quem deu os primeiros impulsos foram eles, as restantes direções também fizeram com que esta casa fosse crescendo. Também tiveram coragem e determinação e fizeram um trabalho que todos reconhecem. O que temos feito é crescer e dar sustentabilidade ao que foi feito. Penso ser essa, uma das razões que levam as pessoas a confiar em nós.

- Apenas com uma lista a votos esperam uma grande votação?

J. R. - Obviamente que neste ato eleitoral, não havendo mais nenhuma lista, apelamos a que haja uma grande votação para legitimar esta Direção para um mandato de quatro anos. Toda a gente sabe que a situação no setor é difícil, temos grandes dificuldades e precisamos de uma lavoura unida em redor dos seus líderes, para que nos fortaleça cada vez mais naquilo que são as nossas obrigações de reivindicação e de postura perante as organizações com quem temos de nos sentar à mesa em termos negociais. Desde as indústrias, os governos: Regional e da República, e a própria União Europeia, para além dos protocolos que temos feito com a banca e serviços.

É muito importante, e fazemos mesmo um apelo, que haja uma grande votação porque o setor precisa. Na última feira já foi demonstrada uma enorme adesão quer de produtores quer de visitantes que foi um sinal positivo e o que precisamos é que no ato eleitoral os associados participem duma forma maciça.

Uma grande votação legitima-nos e responsabiliza-nos para fazer mais e melhor e é esse o desafio que fazemos aos nossos associados e cooperantes. Porque o dia do ato eleitoral é muito importante para  o destino da Associação Agrícola de São Miguel e para a Cooperativa União Agrícola, e para o futuro do setor.

- Vão ser quatro anos desafiantes...

J. R. - Estes quatro anos serão um desafio muito importante para o setor agrícola, porque as realidades já não são como eram no passado. Entristece-me muito ver cada vez menos produtores, é uma situação que ninguém gosta de ver, principalmente quem está ligado à produção.

As conjunturas e a globalização levam a esta situação, mas não queremos que se continue a passar no Nordeste, nos Mosteiros ou Povoação e se veja cada vez menos lavradores. Esse não é o cenário que queremos. Nem é o cenário que vamos permitir que a Região queira.

A fixação das pessoas nos meios rurais, é feita com a agricultura, que é uma atividade económica importantíssima na Região não só por aquilo que gera em termos económicos mas por aquilo que gera em termos sociais e paisagísticos.

Se tivermos algum concelho desertificado, sem agricultura e sem produtores de leite, estaremos muito próximo de uma paisagem fantasma. É ver alguns sítios em que a região já ficou com terrenos, nomeadamente junto às lagoas mais emblemáticas de São Miguel, que são paisagens que ferem a própria imagem. Nem são pastagens, nem é floresta. E não é isso que queremos para a Região.

Queremos terrenos bem cultivados, com pessoas nos meios rurais, com animais nas pastagens, porque este é um grande cartão de visita da Região. O ambiente faz-se com uma agricultura sustentável e por isso as exigências nos próximos anos vão ser cada vez maiores e nós estando mandatados com uma boa votação neste ato eleitoral, ainda nos dará mais força para demonstrar a importância da agricultura nas nossas ilhas e o papel fundamental que representa no equilíbrio socioeconómico na região. 

- Falando em reivindicações, o preço do leite pago à produção é urgente?

J. R. - O preço do leite está sempre em cima da mesa, mesmo quando o leite é pago a bom preço nunca podemos descurar essa situação porque os rendimentos da lavoura estão assentes nas receitas e nas despesas. A grande parte da receita tem a ver com o leite, as despesas têm a ver com todos os custos de produção que são inerentes à própria exploração e depois existem os apoios para compensar as perdas de rendimentos que temos, sejam os apoios da União Europeia sejam os apoios regionais mais esporadicamente.

Já o disse e vou continuar a dizer que é vergonhoso o preço que se paga pelo melhor leite do mundo, que é o mais mal pago da Europa. Penso que os industriais cada vez que colocam um produto dos Açores na prateleira, deviam-se envergonhar sabendo que estão a pagar miseravelmente aos produtores. É uma situação inconcebível.

- O que poderá ser feito para inverter essa situação?

J. R. - Temos visto algumas posições esporádicas do Governo Regional apelando à subida do preço do leite, mas revelam-se tímidas e sem grande convicção.

Não podemos continuar a aceitar que quer a Bel quer a Insulac e a Unileite, continuem sem subir devidamente o preço do leite. É uma situação que não dignifica o setor e esperávamos que as industrias que têm condições para aumentar o preço do leite o fizessem, e as que não têm condições que o justificassem.

Ao não aumentarem justamente o preço do leite, as indústrias estão a capitalizar-se cada vez mais mas estão a destruir uma parte da fileira, quer em termos emocionais quer em termos económicos.

- Acredita que haverá aumentos do preço do leite?

J. R. - Estou convencido que nos próximos tempos, o aumento do preço do leite tem de ser uma evidência. A expetativa é que aumente de forma convicta para que a lavoura sinta que o seu trabalho está a ser recompensado, o que neste momento não acontece.

Existem apoios direcionados às indústrias em montantes que não existem a nível nacional nem a nível europeu, é uma vantagem comparativa que as indústrias dos Açores têm no custo de fabrico. Até existem ajudas ao nível de Projeto de Interesse Regional (PIR) para algumas indústrias com valores bastante elevados e acumulados a outros subsídios que foram dados através de projetos. Na prática não pode ser tudo desculpas, tem de haver uma justificação para se saber porque é que o leite não sobe.

A questão dos mercados até me parece que já pode ser esquecida porque todos os mercados reagiram de forma positiva em toda a Europa e neste momento, inclusive a Espanha está à procura de leite a nível nacional e se isso acontece porque é que as nossas indústrias não aumentam o preço do leite? Porque estão-se a capitalizar à custa do suor e do trabalho dos seus produtores.