Jorge Rita defende aumento do preço do leite | Agricultor 2000


Na entrega do Prémio Produtor Excelente de 2015, promovido pela Associação de Jovens Agricultores Micaelenses, o Presidente da Associação Agrícola de São Miguel referiu a necessidade de se valorizar "o melhor leite do mundo". Jorge Rita defendeu o aumento do preço do leite e a procura de novos mercados para a exportação, mas também uma ajuda extraordinária para o setor, tal como aconteceu há uns anos atrás quando o setor do turismo passou por dificuldades. Mas Jorge Rita alertou que "não há turismo de sucesso nos Açores com uma agricultura falida" 

O Presidente da Associação Agrícola de São Miguel, e da Federação Agrícola dos Açores, Jorge Rita, esteve presente na entrega do Prémio Produtor Excelente de 2015 entregue pela Associação de Jovens Agricultores Micaelenses.

Além da entrega dos prémios, houve lugar para um debate sobre as dificuldades por que passa o setor leiteiro na Região tendo sido apontadas várias razões para a atual situação que se vive no setor. O fim do regime de quotas leiteiras juntamente com o embargo russo provocaram "a tempestade perfeita" para que se instalasse a crise no principal pilar da economia dos Açores.

No debate, que sentou à mesma mesa a produção, indústria, Governo Regional e eurodeputada, o Presidente da Associação Agrícola de São Miguel, Jorge Rita, voltou a lembrar a qualidade do leite que se produz na Região. "O melhor leite do mundo", que a produção conseguiu manter com a qualidade que sempre lhe foi exigida. Se a produção fez, e continua a fazer, a sua parte, é a vez do Governo Regional e da indústria aproveitarem e valorizarem devidamente este "produto de qualidade".

Quando o mercado nacional, que absorve a maior parte do leite dos Açores, está saturado com leite e queijo de outros países, a solução acredita Jorge Rita, é encontrar mercados alternativos para se conseguir escoar os produtos  lácteos dos Açores.

Para enfrentar esta situação que deixa os produtores açorianos preocupados e na expetativa, os apoios que foram anunciados pela União Europeia são "humilhantes e residuais", tal como os que provêm do Governo da República. Jorge Rita lembrou que a lavoura já perdeu "30 milhões de euros de receitas do leite só em 2015" desde o fim das quotas e como consequência também do embargo russo, medidas políticas mas em que a lavoura tem sido a principal prejudicada.

Jorge Rita confidenciou mesmo que "não gosto de ver o atual ministro da agricultura constantemente a anunciar os mesmos milhões para apoiar os produtores de leite". Os quatro milhões, a que se refere o Ministro da Agricultura, são um valor que vem da União Europeia mas que "todas as semanas" é anunciado como um novo apoio. "Tudo isso somado dá muitos milhões, mas acabamos a contar tostões", referiu Jorge Rita que fez as contas e salientou que cada produtor vai receber, no máximo, 900 euros de ajudas da União Europeia.

Já no que toca a apoios do Governo da República, o Presidente da Associação Agrícola de São Miguel destaca que "a solidariedade nacional para os agricultores dos Açores é residual", sendo semelhante ao apoio concedido pelo anterior executivo.

É por isso que Jorge Rita defende um apoio regional para colmatar o período difícil que se vive atualmente no setor, à semelhança do que já aconteceu com o turismo. Apesar de reconhecer que "a Região já canalizou mais apoios para o setor do que a União Europeia e o Governo da República", Jorge Rita não concorda que a Região esteja "a fazer um esforço tremendo para ajudar a lavoura. O turismo está a ser uma lufada de ar fresco na economia regional, mas é preciso não esquecer que o Governo Regional chegou a pagar passagens para as pessoas virem para cá de Inverno".

E a este propósito, depois de terminadas as eleições regionais, Jorge Rita lamentou "profundamente" que durante a campanha eleitoral "raramente se tenha falado do melhor setor económico dos Açores".

Referindo-se ao preço de leite, disse que mercado europeu regista uma subida de preços pagos aos produtores, mas que ainda não tiveram quaisquer consequências junto dos produtores, pelo que, as indústrias dos Açores devem aumentar o preço de leite.

Jorge Rita referiu que "As indústrias têm de realizar uma subida proximamente, porque os produtores não podem aguentar a atual situação durante mais tempo e se existem sinais positivos como os atuais, têm de ter repercussão junto da produção".

Falou também da questão da segurança social que ainda não está resolvida "já que o novo regime de apoio à agricultura familiar, embora tenha introduzido novos escalões, não contribuiu para a resolução da maioria dos agricultores instalados após 2011, que continuam a pagar valores elevados e injustos".

Jorge Rita voltou a reforçar a importância da lavoura na economia dos Açores e argumentou que muito se pode apostar noutros setores, mas "não há turismo de sucesso nos Açores com uma agricultura falida".

Na análise ao setor leiteiro dos Açores que antecedeu uma mesa redonda sobre o tema 'Leite, presente e futuro', promovida pela Associação de Jovens Agricultores Micaelenses para promover e incentivar a produção de qualidade, o então Secretário Regional da Agricultura e Ambiente, Luís Neto Viveiros, reconheceu a qualidade do leite açoriano que deve ser valorizado e deve ser uma aposta noutros mercados. "A forma como produzimos dá-nos vantagem competitiva. Agora a indústria, como está a fazer, deve apostar em produtos diferenciados com valor acrescentado", disse.

Já o Presidente da Associação de Jovens Agricultores Micaelenses, César Pacheco, também se referiu às ajudas "muito curtas, numa conjuntura já muito longa. É preciso conseguir mais apoios para a produção de leite nos Açores em virtude de não se perder essa atividade muito importante da economia regional".

Perante um setor muito descapitalizado e fragilizado pelo preço baixo pago à produção, "precisamos de medidas de efeito imediato para relançar a economia agrícola da nossa ilha", referiu César Pacheco que defendeu que o prémio por vaca de 45 euros não se deve cingir apenas a este ano crise mas se prolongasse no tempo.

Já no lado da indústria, Eduardo Vasconcelos, representante da Associação Nacional de Indústrias de Lacticínios (ANIL) e também da BEL, considerou que o caminho para os produtos lácteos dos Açores é a exportação para o estrangeiro, ressalvando a necessidade de se criar "uma estratégia de exportação" em conjunto entre o Governo e a produção. No entanto, Eduardo Vasconcelos lembrou que "é preciso muito dinheiro" para a exportação e promoção dos produtos regionais noutros mercados. Além disso, "vamos para o estrangeiro e muitas pessoas nem sabem se os Açores fazem parte da Europa", alertou.

Também o Presidente da Lactaçores, Gil Jorge, falou nas dificuldades da exportação e nos preços baixos que produtos provenientes de outros países impõem no mercado, Gil Jorge adianta que a empresa tem vendido leite para Angola mas a preços baixos, enquanto o mercado da China era "uma grande ilusão" mas não está a corresponder às expetativas.

Numa cerimónia que premiou a excelência da produção dos jovens agricultores, o desânimo tomou conta dos produtores premiados, sendo que foi ponto assente que a promoção dos produtos lácteos açorianos é essencial, principalmente em determinados nichos de mercado que apreciem a qualidade e que tenham poder de compra para valorizar a qualidade excecional dos produtos dos Açores.